O ideal de eu, enquanto falante, pode vir situar-se no mundo dos objetos ao nível do eu ideal, ou seja, ao nivel em que se pode produzir essa captação narcísica com que Freud nos martela os ouvidos ao longo desse texto*. Pensem que, no momento em que essa confusão se produz, não há mais nenhuma espécie de regulação possível do aparelho. Ou, em outras palavras, quando se está apaixonado, se é louco, como diz a linguagem popular.
[...]
É isso, o amor. É o seu próprio eu que se ama no amor, o seu proprio eu realizado ao nível imaginário.
A gente se mata ao se colocar este problema - como será que nos neuróticos, que são tão entravados no plano do amor, a transferência pode se produzir? A produção da transferência tem um caráter absolutamente universal, verdadeiramente automático, enquanto as exigências do amor são, ao contrário, como todos sabem, tão específicas.. Não é todos os dias que se encontra o que é feito para dar a justa imagem do seu desejo. Como, então, se explica que na relação analítica, a transferência, que é da mesma natureza que o amor [...] se produza, pode-se dizer antes mesmo que a análise tenha começado? Certo, não é talvez inteiramente a mesma coisa antes e durante a análise."
Lacan (1954) em "Seminário livro 1 - Os escritos técnicos de Freud"
*Introdução ao narcisismo - Freud (1914)
Comments