Vivência dos neuróticos
- psicostapaulo
- há 2 dias
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Um pouco do que tenho estudado junto ao grupo com @lucianakpsalum no seminário da carta roubada…
A tão batida frase de Lacan de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem nos dá uma abertura para pensar a diferença do inconsciente freudiano para o lacaniano, e não só, mas também para pensar a dimensão da cura em uma experiência analítica.
Essa realidade imperativa retirada do trecho do mito individual do neurótico nos dá pista justamente dessa ordenação simbólica que é constituinte para o sujeito. Uma história em que é enunciada a partir daquilo que o sujeito recebe do percurso de um significante. A cadeia significante passa a ter uma ordenação própria, se estrutura advindo dessa submissão a uma lei simbólica, mítica. Portanto a noção de um inconsciente que precisa ser resgatado das profundezas, de trazer todas as memórias para a superfície numa espécie de tornar o inconsciente consciente não é um modo pela qual um analista lacaniano opera. A escuta desses significantes, de como isso se ordena, a relação de um para com outro, de suas repetições vão dando notícias para a leitura desse texto do analisante.
Ainda sobre essa ordem simbólica, é interessante pensar que, tendo em vista o conto de Poe "A carta roubada", cada um das personagens tinha uma relação com a carta, cujo conteúdo pouco importa - nem é revelado - mas o que ela representa enquanto objeto simbólico, isso é o que Lacan destaca sobre sua importância.
A carta, nesse sentido, é um significante que determina o lugar do sujeito na cadeia simbólica. Ela "comanda" as personagens. Ela "faz" com que os sujeitos ajam, ou melhor, ela os estrutura. "... O deslocamento do significante determina os sujeitos em seus atos, seus destinos, suas recusas, suas cegueiras..."
Esses deslocamentos nos suscita pensar na eficácia simbólica. A carta vai circulando a partir da sua falta e isso reorganiza, reconfigura a cena em que cada um das personagens se posicionam.
Agora, quando essa falta falta, daria para pensar no registro do real como aquilo do impossível de mudar de lugar, que está e estará sempre no seu devido lugar. Esse real determinaria a cadeia no lugar da impossibilidade? Se não dá para pensar nos registros (RSI) temporalmente, que precedência dessa realidade imperativa do real Lacan poderia estar se referindo?
Lacan, J. (1955) O seminário sobre "A carta roubada". In: Escritos.
Lacan, J. (1987). O mito individual do neurótico.
Salum, L. K. (2024) Lacan e a estrutura da cadeia significante.


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